domingo, 22 de fevereiro de 2009


Terapias alternativas complementam o tratamento convencional contra o câncer e melhoram a qualidade de vida dos que lutam para vencer a doença.

Kátia Strigueto e Thiago Lotufo

Há três meses, a psicóloga Jassyendy de Oliveira, 48 anos, foi aprovada com louvor na primeira avaliação radiológica a que foi submetida depois do tratamento para retirar um tumor no pulmão direito. A tomografia do tórax mostrou que não havia novas lesões e o processo interno de cicatrização caminhava bem. Desde que o câncer foi descoberto, em junho do ano passado, Jassyendy fez quatro sessões de quimioterapia para reduzir 30% do tamanho do tumor e submeter-se a uma cirurgia que lhe removeria um terço do pulmão. Foi um período difícil e pelo bombardeio químico recebido por ela era de se esperar que os efeitos colaterais fossem intensos. Em vez disso, a psicóloga sofreu apenas um leve mal-estar. Fiel ao tratamento médico convencional, ela queria algo a mais para suportar emocionalmente o baque da doença e iniciou um tratamento paralelo com acupuntura e florais de Bach. “Enquanto a quimioterapia cuidava do tumor, a acupuntura e os florais fortaleceram minha vontade de viver. Saía das sessões de acupuntura mais disposta e não fiquei deprimida em nenhum momento”, resume a psicóloga.

“Esse conjunto de terapias foi responsável pela minha melhora.” Jassyendy ainda não pode ser considerada curada (são necessários no mínimo cinco anos para que um paciente de câncer receba a alta definitiva), mas o modo como ela cuidou da doença ilustra uma nova e cada vez mais comum tendência de tratar o problema: aliar a medicina convencional a terapias alternativas e complementares (as alternativas não têm comprovação científica, enquanto as complementares são mais aceitas). Esse modo de encarar o câncer está refletido diretamente nos números. Nos Estados Unidos, um estudo da Universidade de Harvard feito em 1997 revelou que 42% dos pacientes com câncer procuraram algum tipo de ajuda complementar ao tratamento padrão. Em 1990, esse índice era de 34%. Já uma compilação de 26 trabalhos realizados em 13 países mostrou que a média dessa procura é de 31%. No Brasil, a primeira fase de uma pesquisa feita entre 1998 e 1999 com três mil pacientes do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo, maior referência em câncer no País, revelou que 48% dos entrevistados usam pelo menos um outro tipo de terapia em conjunto com a quimioterapia. “Comecei o estudo porque muitos pacientes perguntavam o que eu acho das terapias alternativas e eu não tinha uma resposta objetiva”, diz o coordenador do trabalho, Riad Younes. Os principais motivos apontados pelos pacientes para a busca de uma ajuda complementar são a impessoalidade da relação com o médico tradicional, o uso em excesso de termos técnicos para se referir à doença e o desejo de receber um tratamento menos agressivo do que a quimioterapia. E a medicina alternativa costuma oferecer justamente uma relação mais próxima com os terapeutas, além de apresentar a perspectiva de tratamentos menos dolorosos. “Os pacientes querem se agarrar a todas as armas”, afirma Sérgio Petrilli, diretor-clínico do Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graac), de São Paulo. Um estudo recente da Universidade de Stanford, nos EUA, mostrou ainda que o interesse por terapias complementares não é necessariamente resultado de más experiências com a medicina convencional. Mas sim uma maneira de os pacientes sentirem que têm um maior controle sobre o tratamento e podem manter uma melhor qualidade de vida. (...).

http://www.terra.com.br/istoe/1592/medicina/1592novo.htm

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